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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Crepes de pêssego com calda caseira de morango


Café da Manhã

Crepes de pêssego com calda caseira de morango

Pouco antes das sete, Madeline ligou para dizer que ela e Helmut, que deveriam chegar a Paris naquela manhã, estavam ainda no aeroporto de Logan. O vôo havia sido adiado duas vezes por problemas mecânicos, e agora, já com sete horas de atraso, eles esperavam outro avião e telefonariam assim que chegassem à França.

Mona ia contando toda a história do suplício dos dois: dormiram no chão do terminal, com tudo fechado nada de café, nada de sanduíches, nada de cobertores, e ninguém da companhia aérea para dar uma explicação, nem muito menos para se desculpar.

Pedimos a Mona que lhes dissesse que a casa mudaria tudo isso, que estar nela faria o sofrimento valer a pena. Depois que desligaram, nós, claro, continuamos a conversar sobre a enrascada deles.
"Segundo Madeline",disse Mona,"Helmut está no limite".
"Só espero que eles não mudem de idéia", disse Jack.
"Eles não mudariam de idéia e simplesmente não viriam, não é?", preocupei-me.
"Não sei", disse Mona."Temos de esperar para ver..."

Já que estávamos todos acordados, Lettie se ofereceu para fazer os crepes de pêssego. Enquanto batia a massa, ela contou esta história. "De vez em quando eu tento fazer alguma coisa diferente para os meus alunos. Sabe como é, levar uma música ou fotos da Europa", disse, picando quatro dos pêssegos de polpa branca e jogando os pedaços numa tigela.

"Assim, numa dessas manhãs, decidi fazer crepes para eles. Não foi fácil levar um fogareiro para a sala de aula", continuou ela, misturando três quartos de uma xícara de farinha, dois ovos e uma xícara de água. "Todos pareciam muito interessados em me ver batendo a massa. Eu a coloquei na frigideira e comecei a mexê-la de um lado para o outro...".

Para fazer a calda dos crepes, Lettie amassou os últimos morangos numa panela com duas colheres de sopa de água e uma de açúcar. "Expliquei a eles que aquilo era crêpe panqueca francesa e, quando a primeira ficou pronta, tirei a da frigideira, enrolei-a com um pouco de geléia, cortei em pedaços e perguntei: 'Quem quer experimentar o primeiro pedaço?' Ninguém se mexeu."

Vimos Lettie colocar a massa na frigideira e começar a virá-la para lá e para cá, esperando, ansiosos, pelos crepes e pela história. "Fiquei arrasada. Tinha me dado todo aquele trabalho para arranjar o maldito fogareiro, levei todos os ingredientes, e os pirralhos não queriam comer." Ela virou o primeiro crepe.

"Ofereci outras vezes, mas ninguém se mexeu. Então, perguntei: 'Pelo amor de Deus, por que vocês não querem nem experimentar?' Sabem o que disseram?" Ela colocou um crepe no prato de Jack, enquanto aguardávamos aflitos a resposta. "Disseram que era porque os crepes não eram _redondos_!"

Confuso, perguntei:"Como assim 'não eram redondos'?" "É, não eram redondos como as mães faziam", explicou Lettie, despejando mais da mistura na frigideira."Eles se referiam àquele tipo que se põe na torradeira as panquecas redondas congeladas!" Não sei nada desses alunos, mas achamos os crepes de pêssego, apesar de meio tortos, uma maravilha.

Mais tarde, naquela manhã, nós quatro decidimos passear pelos campos de girassóis que víamos das janelas dos quartos. A rua acompanhava as curvas do rio, passando pela área vazia das feiras e por várias chácaras.

Arbustos de malva-rosa e de lavanda de mais de um metro de altura encostavam-se nos antigos muros de pedra, e hortênsias púrpura espalhavam-se por degraus cobertos de musgo, que os moradores atuais não usavam havia anos. Para dentro dos campos, com gigantescos rolos de feno brilhando ao sol, de um lado, e os girassóis, do outro, era como dar de cara com uma pintura de Van Gogh.

Acho que eu nunca vira lugar tão tranqüilo quanto aquele. Não sei o que eu esperava, mas não tinha previsto essa sensação. Onde cresci e mesmo onde vivo hoje, só de vez em quando se viam girassóis junto à casa de alguém ou uns poucos no fundo de um jardim. Mas aqui! Aqui se podia passear no meio deles por uma hora e continuar longe de casa.

Para onde quer que eu olhasse, só via beleza os campos, as casas, os jardins. Essa incrível elegância sobreviveu a séculos de invasões, no começo com arcos e flechas e depois com tanques, e ainda assim, após tudo isso, agüentaram firme e continuaram a prosperar. A caminhada pelos campos de girassóis e de fardos de feno enrolados tornou-se uma rotina diária para mim. Os cachorros das chácaras saíam para latir quando eu passava, mas, depois do terceiro ou quarto dia, passaram a me reconhecer. Só saíam para dar uma olhada e voltavam para a sombra.

"Vie de France" Autor: James Haller Editora: Publifolha Páginas: 240 Quanto: R$ 37,00 Onde comprar: Nas principais livrarias, pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

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